14 de abr. de 2008

O impacto da indústria gráfica no meio ambiente

As atividades da indústria gráfica são vistas, pelo público leigo, como danosas ao meio ambiente. O senso comum supõe que o consumo de papel promove o desmatamento. Esse engano simplório é cometido até mesmo por profissionais que deveriam, por dever de ofício, estar melhor informados a respeito do assunto. Tem contribuído bastante para espalhar o engano a célebre frase ao final dos e-mails - “antes de imprimir pense no meio ambiente”-, invariavelmente acompanhada do ícone de uma simpática arvorezinha verde.

É claro que a impressão tem um impacto ambiental importante e que é dever de todo profissional consciente - e competente - envidar o máximo de esforços para reduzi-lo. O trabalho constante em prol da preservação do meio ambiente é fator crítico para a sobrevivência dos seres humanos e das empresas. Todos os profissionais e instituições sérias têm que cerrar fileiras em torno do objetivo de implementar atividades econômicas “verdes”.

O primeiro passo para alcançar esse objetivo é, justamente, colocar a questão de maneira correta e formular o problema adequadamente. O maior empecilho à busca de processos ecologicamente corretos é partirmos de premissas erradas e de mitos disseminados.

No sentido de contribuir para o esclarecimento do problema do impacto ambiental da indústria gráfica, a ABTG tomou a iniciativa de constituir um grupo de estudos, no âmbito do seu “Fórum de Pesquisas Tecnológicas”. Foram convidadas a participar desse grupo, instituições e profissionais de competência técnica reconhecida e indiscutível compromisso com a construção de uma indústria sustentável - ambiental e socialmente.

Este blog faz parte desse trabalho. Nele serão publicados textos produzidos pelo grupo e individualmente. Esperamos a contribuição expressiva do público de modo a darmos maior transparência possível ao debate.

Para começar, coloco as seguintes premissas:

De fato, o papel e outros suportes celulósicos são fabricados a partir de árvores. No entanto, essas árvores são provenientes de florestas plantadas. Cem por cento do papel fabricado no Brasil provém de reflorestamentos. A indústria de celulose e papel não utiliza, como matéria-prima, uma única árvore originária de matas nativas. Assim, não é verdade que o consumo de papel contribua, necessariamente, para o desmatamento.

Quanto maior o consumo de papel, mais árvores serão plantadas para suportar o aumento da produção necessária a demanda crescente. Assim, o consumo de papel faz aumentar a quantidade de árvores e não diminuí-la!

É certo, no entanto, que as florestas plantadas são monoculturas (no Brasil, de pinus e eucalipto). Como tal, essa atividade econômica tem, sim, um impacto ambiental que deve ser dimensionado, avaliado e manejado adequadamente. Lembro que também são monoculturas, com impacto ambiental importante, a soja, a cana de açúcar, o milho, o algodão e tantas outras matérias-primas e produtos.

Ao avaliarmos o impacto ambiental das monoculturas de pinus e eucalipto, devemos considerar a sua contrapartida: o reflorestamento combate o efeito estufa, na medida em que as árvores retiram da atmosfera o carbono necessário para seu crescimento.

Como diversas outras atividades industriais, a fabricação de celulose e de papel, bem como a impressão, consomem energia e lançam efluentes no meio-ambiente. O papel pós-uso, embora tenha alto grau de reciclagem e seja, em princípio, biodegradável, pode implicar em problemas de acúmulo de resíduos.

Os suportes da mídia eletrônica – computadores, celulares, e-books, TVs, DVDs, CDs etc., também implicam num impacto ambiental significativo. Será que essas opções são mais “verdes” que a mídia impressa, como muitos crêem?

Essas são apenas algumas questões sobre as quais queremos fomentar discussão. Somente poderemos buscar as soluções ideais para o problema do impacto ambiental da indústria gráfica se formos capazes de formular adequadamente as questões essenciais.

Manoel Manteigas de Oliveira
Diretor da escola SENAI Theobaldo De Nigris
Diretor Técnico da ABTG